Festa do Avante! 2017 - 1, 2 e 3 de Setembro - Atalaia | Amora | Seixal

Avanteatro

Javier Tomeo — um dos autores representados no Avanteatro 2017 — diz a dado passo do seu Amado Monstruo: «Contudo, a música…! Mesmo que muitos não acreditem, reconheço que algumas vezes pode ser útil para alimentar as nossas esperanças num mundo melhor!»

Pensamos o mesmo sobre o teatro. E é também por isso que o teatro não podia deixar de marcar presença na edição 2017 da Festa do Avante!. O teatro que é sempre uma forma de intervenção, por exemplo, quando na peça «João D.», adaptada e encenada por António Jorge, a partir da obra do autor espanhol citada de início, nos é contado o estranho e curioso caso de um «jovem» de 40 anos que continua dependente da sua mãe e que tenta arranjar o seu primeiro trabalho.

No programa deste ano do Avanteatro assinalamos dois nascimentos: os cem anos de Romeu Correia (1917-1996) e os cento e cinquenta de Raul Brandão (1867-1930).

De Romeu Correia — um dos autores mais representados em Portugal mas que importa recuperar — vamos ter em cena duas peças: «O Cravo Espanhol» pelo Teatro da Terra com encenação de Maria João Luís, e «Bonecos de Luz» pela Companhia de Teatro de Almada com encenação de Rodrigo Francisco. A primeira peça era assim resumida pelo próprio autor: “Assim, com o tempo, conseguimos fundir o que de vagas recordações trouxemos da infância com o belo-da-idade-adulta saído do génio criador dos seus autores, que para o caso d’O Cravo Espanhol foram: algumas figuras dos saltimbancos do Picasso do período rosa; a Paulette Goddard, a do vestido-trapo, quando esta personificava o fruto-juventude colhido por Chaplin; a Anna Magnani de alguns filmes neo-realistas italianos do após-guerra; o clima patético dos vagabundos-com-um-sonho-dentro d’A Estrada, de Fellini, e todo o sortilégio que, felizmente, ainda surpreendemos para nosso regalo nas feiras, romarias, exibições de fantoches, nos dias de Circo, nos panto-mineiros-vendedores-da-banha-da-cobra (que arte e que poder de comunicação têm alguns destes tipos!); tudo isto, dizíamos nós, o passado e o presente muito bem digeridos no almofariz-da-vida, creio ter sido a teia-mestra da nossa farsa-trágica. Farsa-trágica, um conflito de amor e frustração baseado nas cegadas carnavalescas dos anos vinte. História dialogada numa linguagem directa e rude, sem papas na língua, como acontecia nos espectáculos de rua desses tempos.” A segunda peça tem um registo e um tom semelhantes pois o cinema e a figura de Charlot têm nela também um lugar preponderante.

De Raul Brandão, vamos ter «Pelos que andam sobre as águas do mar», produzido pela Galateia e com encenação de Miguel Jesus. Partindo da obra «Os Pescadores» e do trabalho de pesquisa junto das comunidades piscatórias, este espectáculo pretende reflectir e homenagear as várias gerações de homens e mulheres que fizeram do mar a sua vida. Duas actrizes dão corpo e voz às suas histórias, convocando de forma poética, a memória e a paisagem da nossa Costa.

E é claro que vamos ter espectáculos para a infância e espectáculos de rua e música com muita animação.

Como sempre, o Avanteatro é um lugar a não perder na nossa Festa todos os anos renovada.

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