de Romeu Correia
Encenação Maria João Luís
Com Catarina Wallenstein, Emanuel Arada, Helder Agapito, José Leite, Maria João Luís, Teresa Coutinho
E Basareu Prates, Bruno Felipe Cruz, Bruno Godinho, Luís Balanças, Rui Lopes
Cenografia, figurinos e assistência de produção Rafaela Mapril Cabelos Nuno Gomes Adereços Pessoa Junior Costureira Maria Rosa Henriques Design gráfico Pedro Frois Meneses Assistência de produção Joaquim Rocha Direcção de produção e luz Pedro Domingos
Produção TEATRO DA TERRA 2016 M/12
As memórias de infância de poetas, compositores de improviso, cantadores de fado e toda uma fauna artística eminentemente popular, despertaram a necessidade de, já nos anos setenta, voltar a um conceito esquecido de uma criação-desabafo de dores e alegrias com as raízes mergulhadas no cerne da alma do Povo. A ânsia de comunicar é de tal forma imperativa que nem o desconhecimento da escrita serviu de obstáculo a uma criação artística, que teve mais tarde uma correspondente identificação no plano estético, quer nas artes plásticas quer na cinematografia.
Romeu Correia oferece-nos, com O CRAVO ESPANHOL, uma hora e meia de boa disposição à boa maneira de Fellini ou Scola, com Miguel, o patriarca da família, toureiro frustrado que por ocasião do Carnaval, treina com os pretendentes da filha, e não resiste, devido ao seu elevado nível de taurofobia, ao confronto com o touro real.
“Assim, com o tempo, conseguimos fundir o que de vagas recordações trouxemos da infância com o belo-da-idade-adulta saído do génio criador dos seus autores, que para o caso d’O Cravo Espanhol foram: algumas figuras dos saltimbancos do Picasso do período rosa; a Paulette Goddard, a do vestido-trapo, quando esta personificava o fruto-juventude colhido por Chaplin; a Anna Magnani de alguns filmes neo-realistas italianos do após-guerra; o clima patético dos vagabundos-com-um-sonho-dentro d’A Estrada, de Fellini, e todo o sortilégio que, felizmente, ainda surpreendemos para nosso regalo nas feiras, romarias, exibições de fantoches, nos dias de Circo, nos panto-mineiros-vendedores-da-banhada- cobra (que arte e que poder de comunicação têm alguns destes tipos!); tudo isto, dizíamos nós, o passado e o presente muito bem digeridos no almofariz-da-vida, creio ter sido a teia-mestra da nossa farsa-trágica. Farsa-trágica, um conflito de amor e frustração baseado nas cegadas carnavalescas dos anos vinte. História dialogada numa linguagem directa e rude, sem papas na língua, como acontecia nos espectáculos de rua desses tempos.”
É desta forma que o autor Romeu Correia descreve resumidamente a sua obra O CRAVO ESPANHOL. O Escriturário, símbolo dos improvisadores que logo perdem a autoria para o anonimato, é o impregnador das antigas cegadas no clima das cenas. Miguel o toureiro frustrado, procura realizar-se lidando toiros de pano com pernas de homem, no Carnaval. A filha bonita faz de “cavaleiro” e o filho rebelde de “bandarilheiro”. Dois cavalheiros atraídos na ocasião colaboram, vestidos de “boi” para esta “casa da brincadeira”.
O Teatro da Terra inicia com Romeu Correia uma série de espectáculos baseados na nossa investigação do movimento neo-realista português, a “batalha pelo conteúdo” precursora de muitos dos agora considerados mestres do cinema, das artes plásticas ou do teatro.