Bem pode queixar-se da sorte quem não presta atenção ao que se passa debaixo do seu nariz.
Um homem a quem nada corria bem decidiu ir queixar-se directamente a Deus.
Afinal, Ele (Deus) era o responsável por ele ser o homem mais Azarado do Mundo.
Nesse caminho de ida e volta, o homem descobriu que o seu mal talvez não fosse só o Azar...
Apesar de ter tido oportunidade para ajudar o Leão, a Árvore e uma Mulher casadoira, o homem estava demasiado ocupado para pensar nos outros.
Ora, como se mostrou indisponível para ajudar os outros, o Homem Mais Azarado do Mundo acabou por perceber, da pior maneira possível, que os outros também não ajudam quem não sabe ser generoso.
Esta fábula sobre o Outro é a adaptação para Teatro de um conto tradicional guineense. É um espectáculo do Teatro Ibisco, inserido no Ciclo Mukur Mukur, do IbisKodé (o Ibisco dos mais novos) e encenado por Catarina Aidos e Eduino Silva.
O Ciclo Mukur Mukur resulta de uma inédita recolha de contos tradicionais africanos, verdadeiro património imaterial da Guiné Bissau, que poderia muito bem desaparecer, não fora este projecto do Ibisco, tornado possível pelo apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Direcção Artística e Supervisão Pedagógica: Susana Arrais | Coordenação de projecto: Catarina Aidos | Recolha de texto e trananscrição para portugês: Eduíno Silva | Encenação: Catarina Aidos e Eduíno Silva | Interpretação: Ibrahim Manafá e Isabel Sousa | Espaço cénico e figurinos: Susana Arrais | Produção: Eunice Rocha
Um projecto IBISKode (Departamento Educativo do Teatro IBISCO), financiado pelo Programa PARTIS da Fundação Caloute Gulbenkian.
O Teatro Ibisco (2009) nasceu como um projeto de inclusão, juntando jovens de bairros problemáticos, por vezes rivais.
Ao longo destes anos, o Teatro Ibisco chamou atenção para os conflitos entre bairros e ajudou a minimizá-los, reabilitou e transformou o polidesportivo da Quinta da Fonte, lançou projetos de emprego e auto-emprego e criou projectos artísticos para crianças e para seniores, levou milhares de pessoas a conhecer estes bairros para assistirem a espectáculos, co-produziu duas edições do festival O Bairro i o Mundo, organizou o Fórum da Reconciliação, mediou inúmeros conflitos, organizou debates e assembleias comunitárias e formou dezenas de jovens.
Tudo isto criando uma linguagem teatral única, politicamente consciente, crítica, bilíngue e que assenta na realidade dos bairros: uma linha artística que já foi estudada pela Academia e várias vezes reconhecida e premiada.