Festa do Avante! 2017 - 1, 2 e 3 de Setembro - Atalaia | Amora | Seixal

Acção - Joana Bagulho c/ Nuno Moura

Música


Domingo, 3

20:00, Café-Concerto, Lisboa

Joana Bagulho - Cravo | Nuno Moura - Leitura

Sobre o projecto de Carlos Paredes em cravo - Joana Bagulho

Se sou música hoje devo-o a Carlos Paredes, o músico extraordinário que vi quando tinha 9 anos, na Festa do Avante. Fiquei absolutamente apaixonada pela intensidade da sua música e pela diversidade de emoções que saíam da sua guitarra e também me impressionou a relação que Carlos Paredes tinha com o seu instrumento. Ele e a sua guitarra eram a mesma coisa tal era a ligação, era absolutamente mágico. Eu lembro-me de pensar que um dia gostaria de ser assim.

Desde que comecei a tocar cravo que me perseguia a ideia de transcrever a sua música para este instrumento.

Em 2007 iniciei o trabalho de transcrições de música de Carlos Paredes para cravo registadas posteriormente num CD intitulado Acção/Joana Bagulho em cravo a partir de Carlos Paredes.

“Acção” é o título de uma peça que integra o segundo disco de Carlos Paredes, em 1963 com o nome de “Acção – Prelúdio” e é mais tarde transformada em “Canto de rio”. Acção é também uma palavra-chave na vida e obra de Paredes, na sua atitude em relação à música e à sociedade. De certo modo também posso dizer que Acção representa para mim o acto de pôr em prática as transcrições da música de Carlos Paredes para cravo, uma vontade que me acompanha há muito tempo.

Este projecto é de certa forma uma vontade de, como intérprete, poder tocar uma música tão extraordinária e ao mesmo tempo realçar a proximidade do cravo com a Guitarra Portuguesa.

O processo de transcrição decorreu do seguinte modo: depois de escolher uma peça eu seleccionava excertos e tentava reproduzir ao cravo, numa espécie de tradução simultânea. Houve excertos que saíram imediatamente e outros para os quais ainda hoje procuro soluções. Uma transcrição de uma peça musical para outro instrumento é como a tradução de uma poesia para outra língua. Tem que ser fiel à obra original utilizando por vezes recursos diferentes da primeira obra.

O mais curioso deste projecto prende-se com o facto de eu começar a tocar a partir de uma referência já impregnada de interpretações, respirações e intenções. Uma situação muito diferente do trabalho na música antiga, onde procuramos dar vida a uma partitura sem a referência do som original e com instruções escritas que nem sempre são claras. No trabalho de transcrição das peças de Carlos Paredes aprendi as notas, o ritmo mas também a intenção da música de Carlos Paredes. Muitas vezes tentei entrar na sua forma de brincar com os tempos, de correr aqui e abrandar ali. Neste momento já encontrei a minha forma de tocar estas peças embora tenha sempre presente a musicalidade de Carlos Paredes nas gravações que ouvi. Para mim, a música de Carlos Paredes sem essa emoção perde razão de ser.  

Nuno Moura

Poeta e recitador errante, tem vários livros publicados, foi professor de natação, empregado de bar, leitor de jornais (clipping), livreiro, e agora é editor da Mia Soave e da Douda Correria. Organiza eventos de música e poesia, faz parte dos colectivos O COPO, Ventilan e Batatas Parvas, leva os filhos e a namorada ao parque.

Fotografia de Joana Bagulho: Vitorino Coragem

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