Festa do Avante! 2017 - 1, 2 e 3 de Setembro - Atalaia | Amora | Seixal

A Revolução de Outubro de 1917 - 100 Anos de Futuro

Música


Sexta-Feira, 1

21:45, Palco 25 de Abril

Orquestra Sinfonietta de Lisboa – Maestro Vasco Pearce de Azevedo

Coro Lisboa Cantat – Maestro Jorge Alves

Solistas: Marco Alves dos Santos – tenor; Nuno Dias – baixo

 

O concerto da noite de sexta-feira tornou-se um elemento emblemático da Festa. Pela originalidade da sua inclusão anual há mais de duas décadas numa festa popular ao ar livre, mas também pela sua qualidade, pelo rigor sempre procurado de respeitar a música erudita tocada e o vasto auditório.

Mas há mais. O concerto transformou-se também numa criadora forma de assinalar tematicamente cada Festa. Sem cair na solução simplista (e comprovadamente limitadora) de criar «um tema para a Festa», o concerto abriu a possibilidade, pelas suas características, dimensão, complexidade e qualidade de, ano após ano, assinalar uma temática cultural e politicamente relevante e de lhe conceder importância no programa sem de qualquer forma limitar a sua criadora diversidade e a sua ligação profunda a um público diverso e interessado.

Em 2017 não haveria seguramente duas possibilidades temáticas: 100 anos de Futuro –  A Revolução de Outubro de 1917.

De imediato, parecia que era projecto a não criar grandes dificuldades: a Revolução Soviética gerou um período de fulgurante criatividade artística nos mais variados sectores a que música não foi alheia.

Mas o programa vai mais longe. Com toda a justeza, havia que referir que, pese a brutal submissão czarista, o povo russo produziu de há muito soberbas criações musicais que constituíram a resposta humana do povo e das suas criações mesmo face à tirania. Dessa criatividade recebeu a Revolução de Outubro um inestimável património.

E esse será o primeiro andamento do Concerto de 100 Anos de Futuro que este centenário comemora.

Seguir-se-ão as jornadas exaltantes que o eterno livro de John Reed baptizou no seu título Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo. Nesses dez dias e sobre esses dez dias centenas de composições musicais foram escritas – e elas constituirão o cerne do segundo andamento do nosso concerto. O assalto do Palácio de Inverno também se recorda com acordes, melodias, instrumentos, sons – música.

O terceiro andamento será a homenagem ao povo vitorioso, mas, sobretudo, à vitória do povo. A construção de uma revolução onde o trabalho assumiu o natural papel central e um mundo a cuja construção se lançava a classe operária e todos os trabalhadores. Teremos sobretudo o mais humano dos instrumentos musicais: a voz.

Na criatividade que recordar a Revolução exige e permite, não se esquecerá que os sons e as imagens são faces a mesma criatividade humana. Eisenstein e Dziga Vertov foram convocados para a sexta-feira da Festa, lado a lado com a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat.

Programa

1. Alexander Borodine: «Danças Polovtsianas» da ópera «O Príncipe Igor»

2. Modest Mussorgsky /Maurice Ravel: «Quadros de Uma Exposição»

a) Baba Yaga

b) A Grande Porta de Kiev

3. Igor Stravinsky: Suite do bailado «Pássaro de Fogo»  

a) Dança Infernal do Rei Katchei

b) Final

 4. Dmitri Shostakovich: «Abertura Festiva», op. 96

5. Dmitri Shostakovich: Poema Sinfónico op. 131

6. Dmitri Shostakovich: Sinfonia n.º 12, «O Ano de 1917 — À memória de Lénine»

a) Aurora (3.º andamento)

b) O Alvor da Humanidade  (4.º andamento)

7. Canções Populares, Patrióticas e Revolucionárias Russas e Soviéticas

a) Kalinka (Ivan Petrovich Larionov)

b) Os Barqueiros do Volga (popular)

c) Partizans (popular) 

d) Puts (popular)

e)  Katiusha (Mikhail Isakowsy/ Matwec Blanter)

O Cinema ao serviço da Revolução

A anteceder as duas últimas partes musicais do concerto de sexta-feira, 1, os espectadores do Palco 25 de Abril irão assistir ao visionamento de excertos de duas obras-primas do cinema revolucionário soviético: Outubro — Os 10 Dias que Abalaram o Mundo (1928), de Sergei Eisenstein, e Homem da Câmara de Filmar (1929), de Dziga Vertov.

Para além de sublinhar e antecipar, com o maior apropósito, as obras musicais eruditas e populares que nessas duas partes serão tocadas, a projecção destes excertos das versões mudas das duas obras-primas será acompanhada ao piano, «ao vivo», em pleno palco.

Das correntes do cinema de vanguarda dos anos 20 do século passado, o expressionismo alemão e o experimentalismo soviético fizeram avançar a arte cinematográfica como nunca até então, sobretudo do ponto de vista da montagem.

Ocupando-nos, para o que aqui nos interessa, do cinema russo contemporâneo das primeiras décadas do processo revolucionário iniciado em Outubro de 1917, é necessário, desde já, sublinhar que, logo nos primeiros anos, o cinema foi considerado, pelo próprio Lénine, como um dos veículos artísticos e de agit-prop mais decisivos para levar de um modo mais expedito às massas urbanas e campesinas de um país de tão grandes dimensões a forte imagem e mensagem política, social, económica e cultural da nova sociedade em construção.

E a imediata criação da famosa Escola de Cinema de Moscovo, logo em 1919, foi o detonador por excelência para a acção criativa e o ensino mobilizador de grandes mestres como Lev Kulechov, Vsevolov Pudovkin, Alexandr Dovzhenko e, precisamente, Sergei Eisenstein e Dziga Vertov.

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