Abertura
Pouco depois de as portas da Quinta da Atalaia se abrirem de par em par ao povo, aos trabalhadores e aos jovens, realiza-se, na Praça da Paz, o comício de abertura da Festa do Avante!, no qual intervirá o Secretário-Geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
O momento, agendado para sexta-feira, às 19h00, é naturalmente de comemoração, pois, mais uma vez, o colectivo comunista, os democratas e progressistas amigos do Partido, os homens e mulheres de Abril venceram dificuldades e redobraram esforços erguendo a Festa da luta contra todas as formas de opressão e exploração, a Festa dos que, todos os dias, contribuem para a construção de uma sociedade sem classes, a sociedade comunista, inevitabilidade histórica e único futuro para a humanidade.
Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, no acto de abertura da Festa do «Avante!»
Construtores, participantes, estimados convidados – daqui vos saúdo neste momento de abertura da 36ª edição da Festa do Avante!.
Permitam-me uma discriminação positiva numa saudação especial: a esta onda imensa de juventude, de jovens que na sua maioria nem nascidos eram quando realizámos a primeira Festa do Avante!, que num tempo em que lhes querem negar e bloquear o seu futuro, a sua autonomia e felicidade, cortar-lhe, se pudessem, o sonho, aqui estiveram na construção, aqui estão agora, aqui estarão nestes três dias com a alegria que lhes é inerente, desfrutando e participando no espaço desta cidade de três dias, das suas actividades e realizações políticas, desportivas, culturais e artísticas. Desta Festa que traduz na sua edificação e realização um exemplo da sociedade, dos valores, ideais e projecto que os comunistas portugueses ambicionam para a sua pátria e para o povo a que pertencem. Valores, ideais e projecto indissociáveis da solidariedade internacionalista, da paz, da amizade e cooperação com todos os povos e países bem expressa pela presença de dezenas de delegações e representações e convidados internacionais.
Num quadro de uma ofensiva sem precedentes desde o Portugal de Abril, quando o capitalismo convoca e usa todas as suas forças e meios para acentuar o seu domínio, aumentar a exploração e as injustiças, abalar e demolir os alicerces sociais e alienar alavancas económicas fundamentais para um desenvolvimento soberano, quando no nosso país se exercita e aplica o Pacto de Agressão como um bulldozer que tanto responsabiliza a troika ocupante do FMI, BCE e UE, como a troika submissa PS, PSD e CDS, quando numa avassaladora campanha ideológica se proclama durante dias e meses a fio e se persiste nas inevitabilidades, na exigência de rendição sem condições dos que se indignam, protestam e lutam – aqui estamos nesta Festa como estivemos antes e como estaremos no futuro a reafirmar não só a nossa determinação e luta de resistência mas a nossa convicção, não só da necessidade mas da possibilidade de travar e fazer uma ruptura com esta política de afundamento nacional.
Convicção que não se confunde com um desejo.
Quando há um ano atrás nesta Festa do Avante! denunciámos o carácter ilegítimo da troika ocupante e do Pacto de Agressão então dito (ou melhor dizendo «maldito») «memorando de ajuda externa», prevendo e prevenindo que a sua concretização levaria a um País mais injusto, mais endividado, mais dependente, menos democrático, levantou-se um clamor entre o que diziam ser uma visão pessimista.
Passado um ano, afinal, se errámos foi por defeito e não por excesso.
A realidade começa a sobrepor-se à propaganda. Peguemos por onde pegarmos, onde o Pacto de Agressão e o Governo tocaram, estragaram!
No enredo e manipulação de estatísticas por vezes esquecem-se as coisas concretas, a realidade concreta. Um exemplo gritante: há pouco mais de um ano havia em sentido lato 990 mil desempregados, hoje são mais de um milhão e trezentos mil trabalhadores que sofrem a tragédia do desemprego, com tendência para o agravamento, atingindo particularmente as novas gerações cuja taxa de desemprego passou de 27% há um ano para 36,6% e, como é o caso dos professores, que até ao fim do ano podem sofrer o maior despedimento colectivo da nossa história democrática.
Não resolveram nem o problema do défice nem da dívida, apesar da política a ferro e fogo de extorsão e roubo nos salários, nos subsídios, nos direitos e apoios sociais, na saúde, na eliminação de abonos de família a centenas de milhar de crianças, de esbulho e privatização do sector público.
Uma mentirola já este Governo e os seus comentadores de serviço deixaram cair: aquela ladainha dos sacrifícios repartidos por todos. Porque os banqueiros, os accionistas detentores dos grandes grupos económicos e das grandes fortunas continuam de vento em popa.
Não nos limitámos à análise e ao seu acerto. Lutámos com todos os nossos meios e as nossas forças, apelámos à luta dos trabalhadores e das populações com a consciência das limitações e condicionalismos que resultaram da ofensiva política e ideológica, da correlação de forças existente, tanto mais desequilibrada quanto maior era (e é) o comprometimento do PS com o Pacto de Agressão, com as medidas gravosas contidas no Orçamento do Estado, com as malfeitorias contidas nas alterações ao Código do Trabalho.
A luta de resistência é a mais difícil, mas ela é a primeira condição para rasgar o caminho à luta pela construção da alternativa. Como sempre afirmámos: resistir é já vencer!
Na pequena luta, por mais modesta que tenha sido, nas grandes manifestações, nas lutas e greves sectoriais, na greve geral contra o aumento da exploração, nas lutas das populações em defesa do Serviço Nacional de Saúde, dos serviços públicos nas suas terras, na defesa do poder local contra a extinção das freguesias, na manifestação de descontentamento e protesto dos agricultores, dos elementos das forças de segurança, dos militares – a primeira vitória foi ir para além do conformismo e do medo, ganhar coragem travando e dificultando a ofensiva, desgastando e reduzindo a base social de apoio do governo, acentuando dificuldades e contradições tanto no seio dos partidos do Governo como entre os partidos da troika nacional defensores do Pacto de Agressão.
Tem grande significado o facto de no mês de Agosto terem sido levadas por diante lutas reivindicativas a impedir o aproveitamento patronal das alterações ao código do trabalho.
Tanta luta silenciada, desvalorizada que nós próprios tendemos a não valorizar devidamente face a um Governo em fuga para a frente porque sente o tempo a esgotar-se para completar a sua obra de destruição.
Ouvimos por vezes: «a luta de massas não é suficiente para derrotar esta política e este Governo». Pode não ser, mas sem ela, sem o seu desenvolvimento, intensificação e alargamento, sem mais luta organizada é que não os vencemos nem construímos um novo rumo, uma nova política patriótica e de esquerda e um Governo capaz de a concretizar.
Há hoje um elemento novo: são cada vez mais os portugueses que tomam consciência que a prosseguir esta política desastrosa o país afunda-se. A questão agora está, não só na necessidade de um novo rumo mas na possibilidade da ruptura e de uma política alternativa patriótica e de esquerda.
Sim, é possível! – alicerçada na luta, construída com convergências, definindo objectivos e conteúdos concretos, combatendo ilusões e ideias peregrinas de entendimentos por cima sem assumir rupturas e a rejeição clara do Pacto de Agressão, de defesa e valorização da produção nacional e do aparelho produtivo, de compromisso na reposição de direitos extorquidos, de salários, subsídios e reformas roubadas, de afirmação da nossa soberania nacional – sim, é possível, uma política alternativa com o reforço do PCP, dando mais força a esta força insubstituível e combatente que não se acomoda nem se rende.
Vivamos esta Festa nas suas diversas dimensões. Que ela nos dê energias novas e também aquela confiança para o dia seguinte, e para os dias e meses seguintes, na certeza de que nenhuma batalha será ganha ou perdida sem ser travada.
Difícil? Quem disse ou pensou que fosse fácil? Mas que vale a pena, vale!
Declaramos aberta a 36ª edição da Festa do Avante!