Em As Máscaras Sobre o Fogo Domingos Lobo aprofunda na sua ficção a denúncia, inaugurada na verdade em Pés Nus na Água Fria, mas aí restrita a uma personagem, do aproveitamento do subproletariado pelo poder fascista, e agora também por novos poderosos do capitalismo liberal, para a prossecução dos seus fins.

N’As Máscaras Sobre o Fogo, num enredo de peripécias e suspense onde evoluem personagens tão típicas como o Brinquinhos, e se descobrem travestis assassinados com um furinho redondo no pescoço, a vazar-lhes as carótides, e ainda o detective se vê, como é próprio do género, ameaçado da cassação da licença por um chefe de esquadra, focam-se estratos marginais da cosmopolita Lisboa na época em que o Império derruía, mostrados sobretudo através do vocabulário e sintaxe por eles usados, que Domingos Lobo ouviu, assimilou, e passou a recriar, chegando a distorcer literariamente palavras e frases.

Do prefácio de Sérgio de Sousa