O programa da noite sinfónica da Festa do Avante! deste ano procura assinalar o II centenário do nascimento de Karl Marx. Propósito ilustrativo fácil de formular mas difícil de conseguir, visto não haver na sua obra ou na biografia referências explícitas nesse âmbito, embora seja possível assinalar uma ou outra referência à música. E são inclusivamente referências importantes para a elucidação do seu pensamento teórico mais geral.
Será difícil definir o que é uma «música marxista». Por vezes procuramos a valorização do critério social, da forma como a música se integra na dinâmica mais viva do tempo em que é produzida.
São sobretudo os valores extramusicais, como o texto, associados à matéria especificamente sonora que permitem uma aproximação entre a esfera artística e a ideológica (considerando a ideologia num sentido restrito, de tendência, do tomar partido).
Também temos o sentido programático dado à composição musical e reflectido no seu título e, também, a combinação destes dois planos extra-musicais. Neste último, podemos assinalar a obra de um autor desconhecido do grande público, o compositor checo Erwin Schulhoff, nascido em Praga em 1894 e falecido em 1942, num campo de concentração da Alemanha nazi. Foi autor de um Oratório intitulado «O Manifesto Comunista», com texto do Manifesto do Partido Comunista, elaborado em 1848 por Marx e Engels. O Oratório começa com a frase «Ein Gespenst geht um in Europa» (Um espectro ronda a Europa).
Todavia, a música, nomeadamente a música sinfónica, pode ser trazida à efeméride dos 200 anos passados sobre o nascimento de Marx por via de outros critérios, talvez não tão explícitos, mas não menos interessantes e válidos. Assim, teremos uma sucessão de obras que se dirigem ao grande público e àquele que acorre ao concerto sinfónico que terá na próxima Festa do Avante! a sua 26.ª edição.
Alexandre Weffort