Foi assim
Eunice Correia apresenta “o pranto de maria parda” de Gil Vicente, espectáculo que tem como objectivo circular no país e no estrangeiro. Criado a partir do texto de Gil Vicente, com interpretação de Eunice Correia e encenação de José Ramalho, relaciona o trabalho do actor com o teatro de objectos (marionetas). Em cena a Maria Parda, com um vestido largo e pesado cobrindo as suas saias, acompanhada de seis figuras dispostas no palco, que representam os taberneiros a quem pede vinho. O espaço cénico será vazio, despojado, escuro como reflexo da fome, da sede e do abandono que parda sente, e também de Lisboa, “na triste era de vinte e dous…”. Tem um sentido simbolicamente ritualista. Rito de passagem da vida para a morte, cerimonial, com desfecho sacrificial. Esta mulher, beberrona, que vagueia pelas ruas de lisboa em busca de vinho, representa a fome do povo e a miséria que se instalou em Lisboa nos finais de 1521, após a morte de d. Manuel I. Sentindo-se seca, pede fiado a seis taberneiros, cujas figuras serão representadas por marionetas que simbolizam a decadência dos valores humanos como a forretice, o semitismo, a falta de generosidade e solidariedade e que acabam por ditar a sentença de morte desta mulher, uma vez que negam pelo menos matar a sua sede.
Maria Parda decide então morrer.
Ficha técnica