Para a Festa do Avante! 2023, o CineAvante apresenta uma seleção de filmes — entre os territórios do cinema do real e do cinema de animação, assim como nos formatos da curta e da longa-metragem — que no seu conjunto possam despontar um questionamento sobre a atualidade, e suas problemáticas. Com o seu ponto de partida na Revolução do 25 de Abril e a construção por um futuro melhor na sua linha do horizonte, a programação de cinema desta edição convida a um diálogo intergeracional pautado pelos contextos político, social e cultural que singularizam as especificidades entre cada geração.
Sabendo também que o prazer do cinema não se limita ao nosso olhar sobre as imagens, todas as sessões serão antecedidas de uma apresentação com a presença dos realizadores, produtores, atores e outros membros da equipa do filme, assim como de outros convidados especiais, lançando desta forma a deixa para o debate de ideias que é também a Festa do Avante!
Em destaque para o arranque desta edição na sexta-feira, dia 1 de Setembro, celebramos o quinquagésimo aniversário do 25 de Abril com a exibição de Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa (1976), As desventuras do Drácula von Barreto em terras da Reforma Agrária (1977), Cravos de Abril (1976) e Sonhos de uma Revolução (2023).
Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa, um filme António Campos, e produzido pela Célula de Cinema do PCP, que nos dá (re)descobrir uma visão sobre a cidade de Lisboa, já inacessível ao olhar dado a sua constante transmutação, onde as suas paredes e muros foram uma tela em branco para os mais variados murais criados pela Célula dos Artistas Plásticos do partido. Num registo documental com texto do pintor António Domingues, António Campos deixa-nos um dos registos mais exímios sobre o impacto visual, e qualidade artística, dos murais enquanto forma de figuração de ideais e palavras de ordem revolucionárias. Ainda no âmbito das produções cinematográficas da Célula de Cinema do PCP, As desventuras do Drácula von Barreto em terras da Reforma Agrária apresenta uma visão satírica sobre a ofensiva ideológica contra o processo revolucionário da reforma agrária, produzido e filmado em plena Festa do Avante de 1977. Ambos os filmes serão exibidos em cópia digitalizada pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Medida integrada no programa Next Generation EU. Cravos de Abril, um documentário de Ricardo Costa que ilustra a escalada de tensões populares e militares com o governo fascista, mostrando também os sucessivos acontecimentos desde o próprio dia da Revolução até ao 1 de Maio de 1974, marcado na história pela sua primeira comemoração em liberdade depois de quarenta e um anos de repressão fascista. A programação deste primeiro dia encerra com o novo documentário de Pedro Neves, Sonhos de uma Revolução. Uma reflexão pessoal sobre as fricções patentes entre o tempo da resistência e combate ao imperialismo e o momento presente, onde os vestígios materiais e imateriais desse passado colonial continuam a perseguir um povo, que ainda hoje espera pela plena concretização dessa revolução interrompida.
Para sábado, a programação arranca com o filme Sopa Fria (2023), uma curta-metragem realizada por Marta Monteiro. Sopa Fria é um filme de animação 2D sobre a violência doméstica, através do uso de uma primeira pessoa ficcional. Inspirado num casal verdadeiro, a história foi primeiramente adaptada à banda desenhada por Joana Estrela. Segue-se a exibição de Natureza Humana (2023), de Mónica Lima, filme vencedor de dois prémios da Competição Nacional do 31º Curtas Vila do Conde: Melhor Filme Nacional, Prémio do Público. Com o contexto pandémico, e consequente crise económica e social, no seu pano de fundo, Natureza Humana mostra as incertezas de um casal que vê os seus planos em começar uma família a se desmoronarem em meros cenários ficcionais. A sessão de sábado encerra com o último filme de Marco Martins. Uma reflexão sobre o impacto das sucessivas crises económicas e da liberalização selvagem do mundo do trabalho por elas provocadas, Great Yarmouth - Provisional Figures (2023) representa, na obra de Marco Martins, um díptico, com São Jorge (2016), que explorava a situação de um desempregado em Portugal no auge das políticas de austeridade. Neste caso, o foco é a situação de pobreza endémica em que vivem centenas de emigrantes portugueses numa vila costeira no Reino Unido.Já no domingo, será o filme Quase me lembro (2023) a marcar o início da sessão. Uma curta-metragem realizada por Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima. Neste filme de animação, criado com as técnicas animação 2D e Pintura Sobre Impressão, Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima focam-se numa personagem ficcional de uma mulher que deambula por entre a impermanência das suas memórias de infância, tentando reconstruir a história da casa onde viveu o seu avô. Para encerrar esta, e última, sessão, será exibido o filme Entre Ilhas (2021), realizado por Amaya Sumpsi. Um documentário que contempla o contributo oral de diversos testemunhos sobre a história da navegação marítima entre as várias ilhas que compõem o Arquipélago dos Açores. Num período antecessor à nova lógica do transporte aéreo low-cost, Amaya Sumpsi e entrevistados dão a conhecer uma realidade deste arquipélago já ultrapassada, mas cravada seja na memória oral, seja nas imagens que aqueles que a viveram ainda guardam.
Ainda nas manhãs de sábado e domingo, não faltarão as sessões de cinema infantil em parceria com o programa Monstrinha da MONSTRA: Festival de Animação de Lisboa. O melhor do cinema de animação para os mais novos com filmes de todo o mundo, dando boa nota do que o que nos liga sempre foi maior do que o espaço que nos separa. Nas tardes de sábado e domingo teremos oficinas de cinema de animação recorrendo à técnica de stop motion, podendo os participantes ver o filme resultante projectado no ecrã do CineAvante!