Cinema

O Jovem Cunhal

de João Botelho


Sexta-Feira, 2

21:00, /ampCineAvante!

Foi assim

DOC | 2022 | Portugal | 53’

Um filho adoptivo do proletariado”, disse de si mesmo Alvaro Cunhal. E disse bem. Filho de mãe austera, muito  católica e conservadora de quem herdou o caracter e de um pai advogado, progressista, com ideias socialistas, “um  homem bom” de quem herdou as convicções, muito cedo procurou o comunismo, muito cedo o encontrou. Os seus  heróis? Um colectivo, a grandiosa revolução russa que fez tremer e mudar o mundo. Outro individual, o generoso e  grande dirigente comunista Bento Gonçalves. 

“Em nenhum outro político português se condensa melhor a história do Portugal que recusava Salazar” escreveu  José Pacheco Pereira. Em nenhum outro português nos terríveis tempos do século XX se encontra um homem com  tanta coragem para defender aquilo que acredita, digo eu. Coragem é a palavra justa para definir o jovem Cunhal  que aos vinte anos já era um homem. E tantos anos na clandestinidade e tantos anos na prisão! Isolado, espancado e  torturado nunca disse nada, nunca cedeu. Escreveu textos notáveis. Leiam, ou melhor ouçam “a superioridade moral  dos comunistas”, “se fores preso camarada” ou a tese de formatura que, sob prisão, foi defender perante um júri  fascista, “o direito ao aborto das mulheres trabalhadoras”. E excertos dos seus vários livros, romances e contos  escritos sob pseudónimo Manuel Tiago, muitas vezes auto-biográficos. E dizer também, que em tempos mais calmos,  o jovem Cunhal foi o teórico, formador e agitador do movimento neo-realista. Encontrar o modo certo de filmar o  percurso de um jovem complexo e corajoso foi tão difícil como fascinante. Para mim não há documentários nem  ficções, há cinema. E o cinema pode nestes tempos de perigos e ameaças ajudar as pessoas a serem mais corajosas e  mais humanas.

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