Música

LEFTY


Sexta-Feira, 2

00:30, /ampAuditório 1º. de Maio

Foi assim

Os LEFTY são um quarteto de pop rock que remete para as bandas de garagem do final dos anos de 1980, início dos anos 90, numa mistura peculiar entre punk, new wave e pop, que se torna atual, do século XXI, pelos temas das canções e pela produção, assente na robustez e nas texturas sonoras que abrem caminho para um pop rock personalizado. As letras de Leonor Andrade, a vocalista, escritas em português, são diretas, intensas e abordam assuntos da vida quotidiana e de cariz sociológico, que englobam a igualdade de género, a discriminação e outras ramificações da intolerância, sempre de uma perspetiva feminina.

Entrevista ao jornal Avante!

A reinvenção dos sons das ilhas de Cabo Verde

Os Lefty são um quarteto cuja sonoridade remete para as bandas de garagem do final da década de 80 e início da década de 90, numa mistura peculiar entre o punk, o new wave e o pop. Ao som robusto juntam-se as letras directas e intensas sobre assuntos do quotidiano e temas sociais, como a igualdade e as discriminações. Os Lefty são constituídos por Leonor Andrade, João Nobre, Pablo Banazol e Dani. O Avante! falou com os dois primeiros sobre a banda, a sua sonoridade e os temas que abordam, e sobre o que podemos esperar da actuação na Festa do Avante!.

O João Nobre, o autor das músicas dos Lefty, já explicou várias vezes que o nome da banda, que quer dizer «canhoto», é uma homenagem à sua mãe, uma canhota contrariada que acabou por ser uma «ambidestra por teimosia», como disse noutra entrevista. Para além desse significado, há aqui também, subjacente, uma atitude crítica à excessiva «normalização» da sociedade, à imposição de pensamentos e atitudes uniformes, supostamente não contestáveis?

João: A minha mãe sofreu bastante com o facto de ser canhota. Levou muitas vergastadas simplesmente por contrariar a regra, e sofreu bastante, tal como tantas-muitas outras crianças. A ideia de, todas essas crianças não poderem decidir livremente, terem decisões livres, contrariando a sua natureza, aflige-nos bastante. E sim, concordo com a ideia de que existe uma excessiva normalização da sociedade…

Num paralelismo com a música, hoje faltam mais «tribos» de estilos musicais. Quando eu tinha 15 anos havia inúmeros grupos de miúdos que gostavam de metal, de hardcore, de punk, de hip-hop, de rock, de pop, grupos de góticos, de vanguardas, etc… Hoje em dia, embora ainda haja alguns resquícios dessa paisagem, a esmagadora maioria segue apenas uma tendência, e essa tal imposição de pensamentos e atitudes uniformes.

Não existe uma verdadeira capacidade de escolha autónoma e pela sua própria vontade, do ir à procura, do desbravar, do contestar, do questionar e ser disruptivo.

Essa eventual atitude crítica à «normalização» da vida pessoal de cada um é também atribuível às letras autobiográficas das canções escritas pela Leonor Andrade?

Leonor: Pelo facto de serem letras autobiográficas, nunca esteve subjacente qualquer tipo de «crítica». Diria, no máximo, uma «despedida de preconceitos». A minha única vontade foi, pura e simplesmente, purgar. Se a mensagem, de alguma forma, se tornou contracorrente, foi uma consequência da minha leveza.

As letras da Leonor, que assumidamente retratam episódios pessoais, são cruas, explícitas e claras. Nas relações pessoais que são ilustradas nesses versos tanto há amor, falta de amor, desapego como, apenas, desejo sexual. Essas letras são uma afirmação estritamente pessoal ou pretendem analisar atitudes ou modelos mais generalizados em determinadas gerações e locais?

Leonor: Há uns anos atrás talvez fosse o caso. Hoje tornou-se um motor de força.

Será um dos palcos mais importantes em que já actuámos até agora, com um ambiente seguramente fantástico e único, onde iremos dar tudo!

A Leonor não teme esta exposição pública dos seus sentimentos?

Leonor: Não me considero uma pessoa especial e, por isso, acredito que este tipo de conflitos internos seja o prato do dia na vida de muitos outros. A mensagem foi uma compilação de memórias e estados de espírito dos últimos anos da minha vida.

Apresentam também os vossos trabalhos como tendo inspiração no movimento punk das décadas de 1980/90. O que é que fazia sentido há 40 anos no punk/rock ou na new wave que para vocês faz ainda sentido hoje? Apenas razões estéticas ou mais do que isso? Há, por exemplo, também uma reação contra o domínio comercial de outros géneros musicais na pop/rock? Ou é mero revivalismo?

João: Eu acho que há tudo no movimento punk ou na new wave dos anos 80/90 que continua a fazer sentido hoje. Naturalmente os anos são outros, todos os protagonistas político-sociais também são outros, mas há coisas que infelizmente nunca mudam, ou melhor dizendo, nunca mudaram. Agora… temos a perfeita consciência de que praticamos um estilo que é contracorrente, e que está longe das tendências. Mas é precisamente isso que queremos fazer.

Se dissermos que a imagem e algumas nuances da voz da Leonor fazem lembrar, nos anos 80, a vocalista dos Rádio Macau, Xana, estamos a dizer uma parvoíce ou podemos aceitar que uma das inspirações dos Lefty, de facto, também veio daí?

Leonor: Tanto a Xana dos Rádio Macau como os anos 80 foram uma constante na minha infância. Não diria uma influência directa, mas certamente uma parte do ADN.

A banda foi formada no final do ano passado, quando se juntaram, à Leonor e ao João, o Pablo Banazol e o Dani. Com músicos experimentados e com carreira relevante, só começaram porém a «fazer estrada», a dar concertos, já este ano. A ida à Festa do Avante! é, nesse percurso ainda curto, um momento importante para a banda?

João: Claro que sim. Absolutamente. Será um dos palcos mais importantes em que já actuámos até agora, com um ambiente seguramente fantástico e único, onde iremos dar tudo!

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, Av. Baía Natural do Seixal 415, Amora, Seixal, 2845-606
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