Auditório 1.º de Maio
Diversidade cultural para todos os públicos
8 Setembro
O auditório 1.º de Maio da Festa do Avante é, desde sempre, um espaço privilegiado para a diversidade e qualidade cultural. Este ano não foi excepção e todas as noites passaram pelo palco músicos e bandas dos mais diferentes ritmos.
No primeiro dia de festa, sexta-feira, foram os ritmos lusófonos a subir ao palco com Dany Silva, Nancy Vieira, Manecas Costa, Tonecas, Costa Neto e Gerson Mata. Os cantores africanos encheram o auditório com ritmos quentes que fizeram abanar a anca aos espectadores.
A noite de sábado contou com Cristina Branco, em português e com um fado moderno e sofisticado, acompanhada pelo som do contrabaixo, piano e guitarra portuguesa. A interpretação de Cristina Branco do seu mais recente trabalho «Menina» valeu-lhe uma grandiosa salva de palmas de um auditório repleto, logo na primeira música. Quem ouviu a fadista descreveu o concerto como «divinal» e «do melhor que Cristina Branco já fez».
Seguiu-se, pelas 21 horas, o grupo Danças Ocultas de Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel, que fazem da concertina o elemento chave do espectáculo. Com o novo álbum «Amplitude» os quatro músicos fizeram as delícias de, mais uma vez, um auditório cheio.
Juan Pinilla, o espanhol natural de Granada, ao som do flamenco e acompanhado pelos movimentos de uma Sevilhana, cativaram o público. O intérprete, em homenagem ao fado português cantou, com o seu cunho flamenco, o fado «Casa da Mariquinhas» e o «Hino dos Mineiros». Juan Pinilla, que em Espanha tem desempenhado um papel de activista social não deixou de transmitir a sua mensagem de apoio ao PCP e à luta dos trabalhadores.
A banda internacional que pisou o Palco do 1.º de Maio, na noite de sábado, foi Charlie and the Bhoys. Os irlandeses levaram à Festa a sonoridade das canções de inspiração celta e trouxeram ao auditório sons muito diferentes do que por lá antes passou.
O ponto alto de sábado foi da responsabilidade de Bezegol & Rude Bwoy Banda, que fizeram a maior enchente da Festa e onde a tenda do auditório se tornou um local demasiado pequeno para os milhares que os quiseram ouvir. O timbre rouco e tão peculiar daquele que começou como «Dj do Rap» e que agora junta sonoridades de hip-hop e reggae, fechou a noite com um público em êxtase.
Domingo foi o último dia de festa e dia de cantar em português, com o património imaterial da UNESCO, o fado.
Logo após o grandioso comício da Festa da Avante! o auditório recebeu a Orquestra de jazz do Hot Club de Portugal com um espectáculo de tributo a António Pinho Vargas, músico e compositor português. Saxofones, trombones, trompetes, guitarra, piano, contrabaixo e bateria sob a direcção de Luís Cunha tocaram ao som do jazz com as melhores sonoridades que Pinho Vargas compôs.
Já com algum atraso no horário foi a vez da fadista Katia Guerreiro subir ao palco e com toda a emoção que o fado requer, cantou vários temas bem conhecidos do público que a ouvia, recordando «Rosa Vermelha» de Ary dos Santos e «Quatro Operações» de Vasco Graça Moura. Entre cada tema a fadista e os músicos que a acompanharam, nas guitarras Pedro de Castro e Luís Guerreiro e nas violas, Francisco Gaspar e André Ramos foram aplaudidos e ovacionados por quem os ouvia cheios de emoção. Muitos arranjos musicais são do guitarrista Pedro de Castro, nome que Katia Guerreiro frisou várias vezes sempre que apresentava o próximo tema.
Duarte, foi a voz masculina do fado que aqui actuou acompanhado pela viola e guitarra portuguesa. O fadista surpreendeu o público quando pegou na guitarra e sozinho tocou e cantou o tema «Maria da Rocha», uma interpretação que valeu arrepios.
Para encerrar a noite e a 40.ª edição da Festa do Avante! Aldina Duarte, presente em já tantas festas, voltou a brilhar com o seu fado e a sua maneira única de interpretar e dar voz às letras. O público não poupou elogios nem aplausos, tampouco arredou pé ainda que a hora já fosse adiantada.
O palco do Auditório 1.º de Maio encerrou já passava das 23 horas com um balanço extremamente positivo das pessoas que por lá passaram nas três noites. Os concertos culturalmente diversificados foram um dos elogios que mais se ouviu do público e pelas bandas e músicos que relevaram estar muito felizes por actuarem nesta Festa, tão rica culturalmente, e por terem tido sempre casa cheia.
As calorosas tardes do Auditório
O sábado à tarde começou com They Must Be Crazy, a abrir, quer-se dizer: a começar e a «abrir», tomem lá afrobeat, batidas africanas a puxar o pézinho à dança, a convidar ao movimento dos corpos. A «sala» a encher, uma hora de pulos, desengonçados uns, bailarinos outros e, vai daí, ponto final, descanse-se um bocado que a seguir é o Nuno Costa Quinteto, jazz competente e sossegado mesmo quando tocaram «Voando Sobre um Ninho de Vespas». Menos público, outra gente, mas não menos atentos (ou, então, verdadeiramente mais atentos aos sons que eram fabricados num palco onde profissionais domadores de decibéis e mágicos de luzes se portaram lindamente).
Com Dillaz (diz ele que esse nome é para os ouvintes e que é tratado por Chapz lá no bairro, por André pelos mais chegados e «por filho pela minha mãe») foi o máximo para uma multidão de jovens fans dos mixtapes. De novo uma dança pegada, o acordo com as palavras certeiras expresso em gestos, sons e palmas, e depois a debandada para sombras e bebidas, um vazio naquele espaço que ia ser enfrentado por Calum Baird, cantautor escocês (de Edimburgo), cantador de estórias, de viola em punho e harmónica a ajudar. Fiquei descansado ao ver que iam chegando pessoas que por ali se quedavam, agradadas, estava salvo o momento para o artista em palco e para outro artista que, num canto da «sala», entre as colunas de som e as lonas da tenda, agora envergando uma t.shirt na qual se lia «vende-se hip-hop português» e carregadinho de Cd, vendeu toda a mercadoria que tinha e foi o rei das selfies.
Seguiu-se Rita & o Revólver, ela com voz soul e os músicos com cartas de referência de peso. Afro-funk, digamos, mais soul, meia de blues e toca a dançar músicas enfeitadas com palavras portuguesas ou inglesas, conforme, refaz-se o público, o calor aperta, o pó incomoda, mas ninguém, dos muitos que lá estão, jovens na sua maioria, se deixa vencer por isso.
Sempre com alternância de estilos, a tarde de sábado terminaria com o Ricardo Toscano Quarteto. Outro jazz, mais free. Ricardo Toscano a comprovar, ali, o monte de elogios que os últimos tempos lhe têm concedido. E com um público fiel no Auditório.
Um Grupo de Artistas da Província de Hubei (China) abriu as hostilidades na tarde de domingo. Música, dança, máscaras e até um palhaço, tudo para um público sossegado e divertido, aplaudindo uma mostra de cultura diferente. Tudo muito bem e venha o resto da tarde, já a seguir o grupo Pás de Problème, que prometia uma «celebração exótica». Batida pesada, vozes gritadas, naipe de sopros muito eficaz, nada de menos para os muitos fans que os acompanham nas suas deslocações mais os que ganharam na Festa. E de novo um virar de página, desta feita o cante e a campaniça no lugar dos (eficazes) «pum-pum-pum pró pulo». A hora foi dos três alentejanos que compõem o Há Lobos Sem Ser na Serra. Vozes magníficas, excelente exploração das potencialidades da campaniça, ora aí está como, com poucos, tivemos ali o Alentejo todo.
António Portanet abraçou uma plateia que estava ali para escutando-o e aos seus excelentes músicos e coralistas e envolvendo, nesse abraço, Lorca, poeta que os franquistas mataram há 80 anos. Em vão, que as suas palavras não morreram porque alguns, Portanet entre eles, não deixaram.