Milhares de visitantes tomaram a iniciativa no Espaço Ciência: mexeram, viram, ouviram, leram, desenharam, experimentaram, reflectiram e debateram, estimulados pelas múltiplas formas e expressões dedicadas aos progressos científicos realizados no nosso país.

Erguido pelo Grupo de Trabalho da Ciência da Festa do Avante!, desde o tema ao número de módulos, aos conteúdos teóricos e práticos, este Espaço voltou a contar com recursos individuais e institucionais, a reafirmar a importância do conhecimento de qualidade e a evidenciar o papel decisivo dos militantes comunistas nas lutas contra os vínculos precários dos trabalhadores científicos e pela afirmação da Ciência como direito consagrado na Constituição.

Quando a Ciência nos deixa os cabelos em pé ou permite deitarmo-nos numa cama de pregos ou exercitarmo-nos sob uma superfície assente em balões cheios de ar, devemos compreender por que tudo isto acontece, exercitando o hábito de conhecer para que também outras «coisas que lemos e ouvimos mereçam críticas permanentes» referiu Máximo Ferreira.

Contando com a presença de produtores do conhecimento, foram realizados quatro debates que situaram a Ciência antes e depois de Abril, o papel das instituições, as relações com as Artes e a sociedade. Das questões colocadas pelo público relevamos a descrição de situações reais vividas pelos trabalhadores científicos, com relatos como o de um trabalhador obrigado a viver na situação de bolseiro durante vinte anos, tendo a sua situação ficado resolvida só agora com o estabelecimento de um vínculo laboral. Situações dramáticas como esta afectam no nosso País «25 mil investigadores, os mais jovens» como denunciou Ana Pato. A mudança e a transformação da sociedade fazem-se com o combate efectivo às políticas destrutivas. E porque «todas as lutas estão ligadas, a nossa luta é comum, é cultural, política e social» porque «quando lutamos, lutamos pelo Serviço Nacional de Saúde, pela liberdade, pela defesa da natureza, pelo ensino» disse Luís Vicente.

Com a Constituição garantir direitos

Desde 2 de Abril de 1976 que a Constituição garante a liberdade da «criação intelectual, artística e científica» (Artigo 42.º), «o direito à invenção, produção e divulgação da obra científica» (Id.) assegurando «uma política científica e tecnológica favorável ao desenvolvimento do país» (Artigo 81.º) incumbindo ao Estado garantir «a todos os cidadãos, segundo as suas capacidades, o acesso aos graus mais elevados do ensino, da investigação científica e da criação artística» (Artigo 74.º) e o dever de «ter em conta as necessidades em quadros qualificados e a elevação do nível educativo, cultural científico do país» (id.) «por forma a assegurar a respectiva liberdade e autonomia, o reforço da competitividade e a articulação entre as instituições científicas e as empresas» (Artigo 73.º).

Festejando os quarenta anos da entrada em vigor da Constituição da República Portuguesa o destaque dado neste espaço foi justamente aos artigos que garantem o caminho seguro para uma Ciência ao alcance de todos. Esta Constituição, que «está por cumprir e em muitos aspectos tem vindo na prática a ser pervertida no seu espírito e na sua letra com largas parcelas do sector nacional a ser destruído», como referiu Frederico de Carvalho, foi dada a conhecer podendo os visitantes constatar, em artigo único (73.º) as perdas notáveis para a educação, cultura e ciência em resultado da sétima e última revisão (2005).

Valorizar a ciência nacional

Biologia, química, ciência dos materiais, astronomia, astrofísica, ciências sociais, história, antropologia, sociologia, psicologia, desporto e da ciência à indústria foram as áreas tratadas. Nos desporto salientamos a escolha de dois produtos da produção científica nacional, os caiaques e os fatos de banho (tecnologia «colados») usados na alta competição por atletas de muitos países como marco da Ciência pós-25 de Abril.

Outras leituras sobre os problemas do mundo feitas por artistas também foram mostradas desmistificando «a existência de um abismo entre intelectuais e cientistas» nos exemplos trazidos por Ana Maria Dias ampliando a exploração feita por Saramago em «O Homem Duplicado», Pancho e Vhils na relação do Homem com a máquina, na representação da antiga visão geocêntrica da organização do mundo com «A grande máquina do Mundo» – Metalúrgica Coelho/Centro de Ciência Viva de Constância –, por Miguel Araújo e Inês Viterbo com a canção «Balada Astral», e no filme «Até ao tecto do Mundo» concebido com uma nova tecnologia de animação vectorial 2D que resultou de uma investigação na Universidade de Aveiro.

Um balanço permitiu dar a conhecer as edições da Ciência, desde o seu início em 2000, registando num percurso expositivo de memória os meios e as matérias trazidas como os protótipos de investigação na área da robótica, as esculturas representativas dos cinco sentidos e da actividade reprodutora, os crânios verdadeiros de primatas, o mercado e as hortas biológicas, a plantação e o tratamento de aromáticas, o circo matemática, a câmara escura, os gelados ao minuto feitos com azoto líquido, a locomotiva em movimento e os bilhetes antigos, o calceteiro e o oleiro a produzirem peças, o modelo de orca bebé, os bolos e cafés solares feitos em fornos e em painéis solares e o robot a servir cervejas.

Tal como nos anos anteriores, o espaço Ciência não fecha portas. Neste ano o acesso dos visitantes aos conteúdos recebeu nova dinâmica sendo enviado para casa por correio eletrónico numa visível contribuição para a defesa do ambiente. Também está garantida a disponibilização física das várias exposições patentes a escolas, instituições, associações e autarquias.

Em jornal «Avante!»

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