Cineavante
Luzes, câmara, revolução
Quinta, 10 de Setembro de 2015
Pelo sexto ano consecutivo, a sétima arte teve lugar cativo na Festa do Avante! com uma programação de apurada sensibilidade artística que voltou a afirmar o Cineavante como um marco indelével no circuito do cinema português. Com uma forte aposta nos trabalhos nacionais que marcaram o ano, como Alentejo, Alentejo, de Sérgio Tréfaut, Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano, Os Maias, de João Botelho, ou Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos, o Cineavante não esqueceu o centenário de Manuel Guimarães nem a monumental herança de Manoel de Oliveira. Entre os 18 filmes que couberam na sala mais escura da Festa, houve espaço para lutar pela habitação, com Othon, de Guillaume Pazat e Martim Ramos; para sorrir com sonhos adolescentes com VideoClube, de Ana Almeida, e para homenagear os povos que derrubaram o nazi-fascismo, com Vem e Vê, de Elem Klimov. A festa do cinema dentro da Festa da classe trabalhadora é, simultaneamente, tão bonita e tão urgente que nos ajuda a perceber porque disse uma vez Lénine que «para nós, o cinema é, entre todas, a arte mais importante».
«A imensa diversidade da Festa continua dentro do Cineavante: da ficção ao documentário, passando pela animação, nesta sala de cinema confluem diferentes gerações, estilos e géneros para criar um ambiente que reúne duas condições essenciais à actividade artística, a liberdade e a criatividade», explicou ao Avante! Nuno Franco, um dos responsáveis pela organização da mostra.
Programação calorosa
Opinião semelhante partilha Sérgio Tréfaut, que marcou presença na apresentação de Alentejo, Alentejo, uma viagem musical pela voz de um povo que trabalha e canta e que venceu o prémio de melhor filme português no IndieLisboa 2014.
«É uma programação muito generosa, muito calorosa», disse o realizador, confessando-se emocionado com a reacção do público: «as pessoas estavam muito emocionadas. Saíam da sala em lágrimas. O Alentejo, Alentejo é um filme muito ligado à luta pela dignidade, à luta pela justiça, então estava na cara do espaço», concluiu.
Para Nuno Franco, o contacto directo entre público e realizadores, entre os quais também se destacam António-Pedro Pedro Vasconcellos, Ana Almeida, Fernando Galrito e Jorge Pelicano, é, por outro lado, um indício do crescimento da mostra de cinema na Festa.
Cada vez maior
«Sentimos o reconhecimento do Cineavante nessa primeira abordagem aos realizadores que queremos convidar. Os realizadores conhecem-nos e têm muito interesse em participar. Temos vivido um processo de crescimento e afirmação que se nota logo quando abrimos às 11 da manhã e temos a sala cheia», continuou Nuno Franco. «Os visitantes também sabem que há cinema na Festa e cada ano chegam em maior número.»
Com efeito, não foram raras as exibições a lotar a sala. Malgrado uma ampliação do espaço, em 2013, o cinema da Festa foi pequeno para o público que quis conhecer o filme soviético Vem e Vê, de Elem Klimov, uma duríssima e magistral lição de História, que, assinalando o 70.º aniversário da derrota da tropas hitlerianas, nos leva à União Soviética ocupada pelas hordas fascistas para acompanhar o crescimento e envelhecimento de Flyora, um adolescente privado da adolescência pela barbárie nazi.
Noutro registo, entre os filmes mais procurados pelos visitantes, merecem destaque Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos, a história de um adolescente que foge de casa para se encontrar a si mesmo num improvável terraço de Lisboa e O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, uma bela animação sobre a viagem de um menino por uma estranha terra povoada por monstros e máquinas.
Mostra de como pode ser o cinema e a arte
«A qualidade e a diversidade artísticas do Cineavante mostram o potencial dos nossos criadores e a justeza das propostas do Partido para investir no cinema nacional», defendeu Nuno Franco, pois «quando as pessoas têm a possibilidade de ver arte com qualidade, aderem», rematou.
E se o pulsar da Festa diz muito, na fraternidade e na alegria, sobre o projecto do PCP para Portugal, o Cinevante também revela como poderiam ser mais salas de cinema portuguesas, se as artes estivessem realmente ao serviço do povo.