Espaço Ciência na Festa do Avante!

Faça-se luz

Espaço Ciência na Festa do Avante!

A escolha da luz como tema a abordar no Espaço Ciência tem óbvia relação com a declaração de 2015, pela ONU, como Ano Internacional da Luz. «Mas é também um assunto do maior interesse político, económico, social e científico», afirma o responsável, Augusto Flor.

O colectivo que está a preparar a exposição do Espaço Ciência na Festa do Avante! fá-lo tendo a consciência de que, sendo 2015 o Ano Internacional da Luz, há inúmeras iniciativas a decorrer em todo o País, levadas a efeito pelas mais variadas instituições e associações – muitas das quais com um enorme potencial científico, tecnológico e financeiro. Contudo, sublinha Augusto Flor, membro da Direcção da Festa e responsável pelo grupo de trabalho da Ciência, «nada disso invalida a abordagem que neste espaço se quer fazer do tema, centrada em questões científicas, mas também económicas, sociais e políticas».

Sobre a escolha da luz como tema, o responsável acrescenta que «pode parecer demasiado óbvio ou evidente em si mesmo e, por essa razão, menos digno de importância»; daí a necessidade de vincar o oposto: «a luz é uma matéria-prima, para os cientistas que a estudam, para os artistas, para os intelectuais – ou seja, possui uma dimensão multidisciplinar que é preciso sublinhar e que procuraremos evidenciar na Festa», diz na entrevista ao Avante!.

Ainda em jeito de introdução, a afirmar premissas que se constituem fundamentais ao trabalho deste grupo, o seu responsável faz questão de vincar que «a exposição do Espaço Ciência é, tanto do ponto de vista da concepção como da execução, exclusiva deste colectivo e do Partido; não é uma cópia de algo que possa estar a decorrer, mas um trabalho de raiz, feito aqui» e «concebido para circular pelas escolas e outros espaços – a exposição ou algum dos seus módulos – depois dos três dias da Festa».

A luz sob vários prismas

O primeiro dos sete módulos em que a exposição se divide centra-se na astronomia e irá abordar «a luz que nos chega, a do céu nocturno e a do céu diurno», explica Emília Costeira, acrescentando que haverá painéis dedicados a descobertas astronómicas, às sondas, aos telescópios, à Terra vista do espaço. «O fundamental é perceber que nos chegam diferentes luzes dos céus nocturno e diurno, e a forma como isso despertou e desperta a curiosidade humana, fazendo avançar o conhecimento científico», conclui.

Joana Dinis, por seu lado, diz ao Avante! que o módulo expositivo da física irá abordar «as questões da radiação solar e do espectro luminoso – os vários tipos de luz que compõem o espectro luminoso». Nestes painéis, o visitante poderá aprofundar o seu conhecimento sobre questões como: o efeito da radiação solar na Terra e as variações de temperatura; os fenómenos de refracção solar (com exemplos da sua aplicação); os vários tipos de espelhos existentes e suas aplicações; o movimento diurno do Sol e o modo como nos podemos orientar a partir da sua posição; os pontos cardeais.

Anabela Silva, responsável, com Luís Vicente, pelo módulo de biologia, afirma que estarão em destaque nos painéis questões temáticas associadas a «luz e plantas» (fotossíntese, influência da luz na germinação e na refloração, fototropismo), a «luz e animais» (como a influência do fotoperíodo na reprodução, nas migrações, nos períodos de actividade) e à «vida sem luz» – uma «abordagem menos conhecida», diz Anabela Silva ao referir-se a esta última temática, que «incidirá em fenómenos como a quimiossíntese, a existência de vida nas zonas abissais e as adaptações da vida animal ao facto de não haver luz». Os ciclos circadianos, o modo como a luz solar os define e os distúrbios que sofrem, nomeadamente a nível laboral, com o trabalho por turnos, serão também alvo de tratamento neste módulo.

Perspectiva social

Augusto Flor sublinha que «a abordagem dos temas por via das ciências sociais tem vindo a ser feita nos últimos anos, porque a exposição não se centra exclusivamente numa dimensão tecnológica». Desta forma, na abordagem à luz serão feitas incursões às áreas da história – para nos ajudar a perceber o presente e a perspectivar o futuro –, da antropologia – para, entre outros aspectos, encarar os mitos associados à luz e à escuridão –, da sociologia – para percebermos, por exemplo, como as diferentes classes sociais vêem a luz de forma diferente –, da psicologia – para melhor entendermos como os nossos comportamentos mudam em função da presença ou ausência de luz.

Num quinto módulo, será vista «a luz no dia a dia», diz o responsável do Espaço Ciência, antes de sublinhar que, se o grupo de trabalho procura sempre que o rigor científico esteja plasmado em cada exposição, «também é grande a preocupação de que as exposições sejam acessíveis a todos» e, neste sentido, «isto tem de conduzir à abordagem da parte utilitária da luz», falando-se das suas diversas aplicações, da arte à medicina.

«O módulo seis é dedicado à "política"», prossegue Augusto Flor, precisando que, aqui, a preocupação reside em demonstrar como «a luz solar é um bem essencial, que, como tal, tem de ser um bem comum; dessa forma e por princípio, deverá contribuir para o bem-estar geral, e nós questionamos se de facto tal acontece», acrescenta.

Diálogo com a arte

Como em anos anteriores, o Espaço Ciência contará com uma amostra de diversas expressões artísticas relacionadas com o tema eleito, e, sendo este a luz, a fotografia e o cinema terão primazia, pelo aproveitamento do «luz/sombra», assim como outras artes pictóricas – pintura, escultura ou arquitectura, neste caso com destaque para o tratamento que Siza Vieira faz da luz. «O Instituto Politécnico de Setúbal e a Casa de Serralves são exemplos», diz ao Avante! Alice Figueira, acrescentando que também não faltarão exemplos da abordagem da luz (e da sombra) na literatura ou da sua importância no teatro.

Maria Aurora Bargado, artista plástica residente no grupo de trabalho do Espaço Ciência, revela que, este ano, irá realizar uma escultura «simples na mensagem»: uma lâmpada grande, feita com material reciclável. Dá também a conhecer a sua intenção de trabalhar «ainda mais» no Espaço Criança, fazendo os desenhos que os pequenos irão preencher com cor.

Brincar, debater, experimentar

O grupo de trabalho está a preparar a realização de quatro debates, em que, revela Augusto Flor, a temática da luz será encarada sob diferentes ópticas. Assim, nos três dias da Festa, será possível discutir: o ano internacional da luz numa perspectiva política, para avaliar os impactos políticos da decisão da ONU; a utilização da luz no dia a dia, para que se entenda a sua utilidade muito para lá do que é óbvio; a luz perspectivada pelas diferentes ciências sociais; a luz na Terra e no espaço.

À semelhança de anos anteriores, as crianças terão um espaço próprio – que este ano irá mudar de sítio – no Espaço Ciência, para que ali possam brincar e aprender, e realizar as suas experiências num mini-laboratório. Para além disso, haverá um Espaço de Observação e Experiências, cujo funcionamento será assegurado por «duas instituições importantes neste âmbito: o Centro Ciência Viva de Constância e o Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST); estas não se limitarão a expor, a mostrar os seus conhecimentos, mas vão também interagir com o público da Festa», informa Augusto Flor, valorizando estas participações institucionais no Espaço Ciência.

Em jornal «Avante!»