Milhares de pessoas desfrutaram de um Espaço Internacional alargado e com novidades, do intenso programa de debates e música, e da presença de partidos e organizações estrangeiras que trouxeram à Festa do Avante! lutas e culturas doutras paragens.

O lema escolhido: «Festa do Avante! – 40 anos de solidariedade internacionalista», foi igualmente o mote para a sua exposição central.

A mostra, patente no sítio onde até aqui ficava o Palco Solidariedade, ganhou visibilidade e desafogo, permitindo visitas enquanto decorria um debate no espaço criado para o efeito, mesmo ali ao lado. O que é uma inovação. A existência de um espaço próprio para os debates (antes decorriam no Palco Solidariedade) tornou o diálogo e o esclarecimento mais próximos, serenos e confortáveis. Os sete debates ocorridos sábado e domingo (ver nestas páginas) estiveram invariavelmente cheios e suscitaram a intervenção de quem assistia.

Quanto à exposição, não esqueçamos, tratou-se de uma evocação do percurso percorrido, onde se estriba a acção presente e forja a experiência e autoridade revolucionária do PCP. Ali se registava que a solidariedade para com a luta de outros países e povos «marcou uma presença constante» na Festa «como característica indissociável do ser e agir dos comunistas», mostrando-se imagens de ontem e de hoje que ilustram a prática internacionalista do Partido; sublinhando-se a reciprocidade dessa solidariedade internacionalista que hoje conserva grande actualidade. Nesse sentido, a exposição do Espaço Internacional não esqueceu que os povos resistem e lutam, alcançam vitórias e obrigam o imperialismo a recuar, e que para o PCP «a solidariedade internacionalista é inseparável da luta que travamos em Portugal em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo».

Novidades de sempre

A colocação do Palco Solidariedade no local onde anteriormente se situava o Avanteatro foi outra novidade. Não tanto porque tenha alterado o conteúdo da sua programação, mas porque criou uma diferente vivência do Espaço Internacional como um todo e dos espectáculos nele realizados em particular (ver caixa).

Quanto ao demais no Espaço Internacional, são novidades e não são. Isto é: não é novidade para ninguém que ali os visitantes encontram uma montra da cultura de vários países e regiões. Porém, cada ano é possível experimentar uma comida diferente ou adquirir um objecto ímpar. Este ano não fugiu à regra, existindo 28 partidos e organizações estrangeiros (de um total de 49 que enviaram delegações) com pavilhão próprio, 14 dos quais com bares e restaurantes e cerca de uma dezena com artesanato. Acrescem os stands com petiscos da Associação de Amizade Portugal-Cuba, dos comunistas do Movimento da Paz, o Bar da Solidariedade e a Associação Iuri Gagarín, onde além do mais o Fotomatov convidava a tirar uma foto com o capacete do cosmonauta soviético e primeiro homem a orbitar a Terra.

Não é novidade, ainda, que no Espaço Internacional o convívio e a conversa fraternas fazem perder horas e ganhar consciência e conhecimento, mas todos os anos essas são práticas que se renovam com prazer, como se fosse a primeira vez. Como não é igualmente novidade que as paredes e muros do Espaço Internacional exibem desenhos e palavras de ordem que estimulam à luta e à solidariedade internacionalista para com a luta dos povos irmãos, e também o não é que antes do comício de encerramento da Festa do Avante!, do Espaço Internacional sai uma multidão com bandeiras representando diferentes partidos e países, dizendo palavras de ordem em línguas diferentes, mas sempre numa singular e notável expressão da solidariedade maior que significa a Festa do Avante!, a festa do PCP – Partido patriótico e internacionalista, como sobressaia num dos murais do Espaço Internacional.

Palco Solidariedade

Situado noutro local e com melhores condições para público, artistas, camaradas e amigos envolvidos na produção dos espectáculos (cuja entrega militante e fraternidade criou um ambiente de trabalho excepcional que cabe aqui realçar), o Palco Solidariedade foi um ponto de atracção no Espaço Internacional.

A oferta musical foi variada. Podemos dizer quase para todos os gostos. A música popular e tradicional portuguesa esteve em destaque, marcando presença nos três dias. No total, foram quatro concertos do género, com destaque para os realizados sexta-feira por João Queiroz, e domingo, a encerrar, por Luís Galrito e o projecto Canto Livre. No mesmo género, actuaram ainda Yemadas Band (sexta-feira) e Canções de Labor e Lazer (sábado).

Mas houve também música tradicional russa (Oleg Chumakov), jazz vintage (24 Robbers Swing Band) e World Music (Gapura), estes dois últimos a fazerem do Palco Solidariedade um terreiro de dança na noite de sexta-feira.

No sábado, parte da tarde foi reservada para projectos que se pretendem afirmar no panorama do Rock/Pop (Cursed Cliff, No Rain) e na World Music (Torga). No Funk, os Supernova fizeram um espectáculo superlativo a todos os níveis. Quem passava frente ao palco ficava com prazer. E assim a moldura humana foi crescendo, crescendo, e ficou para a noite.

Primeiro, para o concerto de Los Cavakitos, banda de mariachi da margem Sul do Tejo que, com arranjo musical próprio para temas conhecidos e traduzidos, criaram o ambiente de boa disposição que recebeu os Peste & Sida. Estes levaram ao Palco Solidariedade o espectáculo de comemoração dos seus 30 anos (que já haviam tocado à tarde no Palco 25 de Abril), trazendo como convidados ex-membros da banda. A multidão pediu mais e mais Punk Rock. Os Peste não defraudaram os fãs, mas o sucesso e identificação com um grupo icónico deixa sempre sabor a pouco. Queríamos ter ouvido aquela, e aquela outra música. Outras oportunidades virão, até porque os Peste & Sida são da Festa, e João San Payo não o escondeu.

Resistência e memória

Ao início da noite de sábado, o projecto El sur com Rui Alves e Francisco Di Carlo levaram ao palco a arte solidária com os povos da América Latina, tendo ocorrido mesmo uma intervenção política a propósito da actual ofensiva imperialista no subcontinente e da reacção resistente dos povos por parte de um representante político de Cuba, país que está no centro da luta anti-imperialista no subcontinente e no mundo.

No domingo à noite, já depois da actuação vespertina do Lobo Meigo (Rock/PopIndie) e da muito animada Orquestra 7 (Animação de Rua) e do Comício da Festa no Palco 25 de Abril, subiu ao Palco Solidariedade a memória da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que cumpre 80 anos do seu início.

Primeiro, António Portanet cantou Garcia Lorca (poeta assassinado pelos fascistas a 18 de Agosto de 1936). Em seguida, Jorge Cabral, da organização do Palco Solidariedade, apresentou o espectáculo, dando importantes notas sobre o contexto em que ocorreu o conflito e as forças envolvidas, o significado e papel da solidariedade internacionalista, sobretudo do PCP e dos comunistas de todo o mundo, que viam na Guerra Civil Espanhola o prelúdio da Segunda Guerra Mundial e lançaram-se num combate sem trégua à ascensão do nazi-fascismo.

Depois, veio a poesia, com Luísa Ortigoso, Fernando Jorge Lopes e José Carlos Faria, a declamarem Miguel Torga, Pablo Neruda, Gabriel Celaya e Miguel Hernandez; falou um representante do Partido Comunista de Espanha, e a evocação terminou com João Queirós à viola e Manuel Pires da Rocha (Brigada Victor Jara) a acompanharem Margarida Leal a cantar «Ay Carmela», e o público de punhos no ar com a memória e a resistência.

Em jornal «Avante!»

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