O CineAvante! afirma-se cada vez mais como elemento fundamental e distintivo do programa cultural da Festa do Avante! – e como tal já é reconhecido. Dá-nos a ver e a ouvir o melhor do cinema português. Coloca-nos também em contacto com outros lugares e outras culturas através da arte cinematográfica. Do pluralismo estético da programação aos encontros de espectadores interessados com quem faz os filmes, o CineAvante! mostra a vitalidade do olhar dos artistas de cinema sem o desligar do pulsar da realidade social. Além da participação atenta dos visitantes, uma prova desse reconhecimento foi o pedido do Doclisboa para a divulgação da retrospectiva sobre documentário e vanguarda em Cuba que decorrerá entre 20 e 30 de Outubro. O CineAvante! cresce em prestígio. É um espaço que deve continuar a ser valorizado e melhorado.

Fernando Galrito, director artístico da Monstra – Festival de Animação de Lisboa, já visita a Festa há muitos anos, tendo participado no CineAvante! em edições anteriores. A Monstra colaborou em duas sessões este ano: uma mais dirigida ao público adulto, outra mais direccionada para as crianças. Em conversa, Galrito revelou que a Festa «lança discussões», enquadra os filmes como objectos artísticos e culturais, cria chances de «encontros das pessoas com a arte e em torno dela». A arte está em mutação constante, mas é igualmente matéria de transformação. Para ele, o CineAvante! incentiva a descoberta e o desenvolvimento dos espectadores, vindos de diferentes contextos sociais e culturais, que se cruzam numa relação recíproca de aprendizagem e enriquecimento. Vários realizadores portugueses com quem falou, como Isabel Aboim Inglez e Pedro Brito, exprimiram contentamento pela inclusão dos seus filmes no programa. José Miguel Ribeiro fez questão que a sua obra sobre a guerra colonial, Estilhaços (2015), fosse mostrada, apesar do facto de ter sido seleccionada para o Festival de Locarno poder ter criado um obstáculo à sua exibição na Festa.

Manuel Mozos, realizador de A Glória de Fazer Cinema em Portugal (2015), elogiou o programa e expressou satisfação pelo seu filme chegar a mais gente. Comovido, confessou o seu orgulho em participar nesta Festa «tão meritória» onde se vê «o ânimo e a alegria de acreditar que há uma luta possível».

Nuno Gervásio e Sandra Almeida do Shortcutz, responsáveis por uma sessão de curtas-metragens, sublinharam a sintonia com o CineAvante!: «divulgamos cinema português de qualidade para novos públicos», «é uma missão de serviço público», «neste caso, com uma programação de cariz mais social», explicou Nuno. Sandra relembrou as oportunidades que têm dado a cineastas estreantes — como Leonor Teles, que apresentou Rhoma Acans (2012) noutra edição da Festa e ganhou recentemente um Urso de Ouro no Festival de Berlim com Balada de um Batráquio (2016), filme que provocou uma enchente no CineAvante! deste ano. A Festa é uma celebração cultural e plural com a qual sentem proximidade, esclareceu ele. «Nem nós participaríamos em algo em que não nos reconhecêssemos politicamente e com o qual não partilhássemos valores», acrescentou ela.

Francisco Moura Relvas, realizador de O Dr. Adrián e os 5 Senhores (2015), salientou a dimensão informativa e formativa dos eventos culturais assim como a valorização do cinema português. Destacou ainda a «actualidade da Festa, no seu carácter político e cultural». Nela vê um entendimento da arte também como procura da verdade, «não só como criação estética, mas como forma de conhecimento». Foi a primeira vez que veio, comentando que nela cabe o País e o mundo, «partidos em blocos», mas «depois da fragmentação, há um compromisso de fundo entre todas as coisas».

Gonçalo Pôla, realizador de Auto Rádio (2016), já tinha visitado esta Festa «construída com o coração» pela mão da avó, militante comunista. Pretende que o filme seja visto em todo o lado e considera que a assistência no CineAvante! «é heterogénea e vê os filmes de diversas maneiras». As iniciativas culturais da Festa põem as pessoas em contacto com a criatividade da arte e da cultura, segundo um princípio de igualdade que ele disse partilhar.

A Festa surpreende de forma acolhedora quem a visita pela primeira vez. Foi o caso de João Pedro Plácido, realizador de Volta à Terra (2014). Provavelmente, nunca mais deixará de vir a esta Festa que também é a festa do cinema.

Em jornal «Avante!»

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